Logo Baru Observatório

Será que compreendemos, de fato, o valor da nossa história?

Mais que uma questão política, trata-se de um apelo à cidadania: é preciso refletir sobre como a sociedade anapolina e suas instituições valorizam a cultura material

Um placeholder qualquer

Letícia Jury

18 de setembro de 2025

Compartilhe nas redes sociais

Será que compreendemos, de fato, o valor da nossa história? Essa reflexão ganhou força recentemente durante uma mesa-redonda que participei promovida pelo Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (TECCER), da Universidade Estadual de Goiás (UEG), durante Seminário que teve como tema 'Cerrado: usos, urgências e emergências'. O encontro ocorreu em agosto na Estação Ferroviária, localizada na região central de Anápolis, espaço que guarda a marca do início do desenvolvimento econômico da cidade.

Enquanto jornalista, recordo a luta para que aquele prédio fosse preservado como um local de memória. Hoje, ele resiste sufocado pelo terminal urbano, que cumpre papel logístico essencial para o transporte diário de milhares de pessoas, mas que também encobre, pouco a pouco, a importância histórica da estação. Foi ali que chegaram os imigrantes e se consolidou o entreposto comercial que deu origem ao crescimento de Anápolis.

A ferrovia, afinal, não é apenas um capítulo da cidade, mas um símbolo do progresso em todo o mundo. Carrego comigo memórias afetivas de viagens de trem: o percurso entre Ouro Preto e Mariana, a viagem de Tiradentes a São João del-Rei, ou mesmo o passeio encantador pelos trilhos de Campos do Jordão. Em cada destino, a ferrovia preserva histórias e identidades.

Mas, voltando ao caso de Anápolis, fica a pergunta: o que falta para despertar a atenção da sociedade para a importância histórica de espaços como a estação? Durante o seminário, aquele prédio ganhou vida por alguns dias. No entanto, é perceptível a ausência de preservação, de cuidado e de valorização permanentes.

A memória de quem lutou pela estação também se faz presente. O historiador Jairo Leite foi um dos grandes idealizadores da preservação do espaço, defendendo por muitos anos que o prédio tivesse o protagonismo que merece. Vale mencionar também um grande visionário: o médico Mozart Soares, que sonhava em transformar a estação em um Museu da Imagem e do Som. Prova desse ideal é que um dos pavilhões homenageia o “homem rádio”, José da Cunha Gonçalves, que deixou um valioso acervo de material audiovisual ao falecer.

Não se trata aqui de uma crítica política, mas de um apelo à cidadania. É preciso pensar em como os moradores de Anápolis enxergam aquele espaço, e de que forma entidades e instituições podem contribuir para que ele seja efetivamente valorizado. A iniciativa da UEG foi brilhante: ao ocupar a estação e levar conhecimento, a universidade resgatou histórias e aproximou a população de seu patrimônio. A arte também ajudou nesse processo, com a apresentação inspirada em Cora Coralina, conduzida pelos músicos Roberto Brenner e Giovani Tronconi, que transformaram a antiga estação em palco de cultura e memória.

Resta a dúvida: serão essas iniciativas apenas ações isoladas? O que falta para que a Estação Ferroviária seja, de fato, um espaço vivo, reconhecido e preservado pela sociedade?

© 2025 Baru Observatório - Alguns direitos reservados. Desenvolvido por baraus.dev.